terça-feira, 17 de maio de 2011

A força do trabalho voluntário



Boa noite amigos.

Esse post é sobre algo muito importante em minha vida, o voluntariado. Há cerca de uma ano e meio sou voluntária na Junior Achievement http://www.jabrasil.org.br/ja/,ONG voltada para a educação mantida pela iniciativa privada, cujo objetivo é despertar o espírito empreendedor nos jovens, ainda na escola, estimulando o seu desenvolvimento pessoal, proporcionando uma visão clara do mundo dos negócios e facilitando o acesso ao mercado de trabalho. São vários projetos que vão desde o ensino fundamental ao ensino médio. O projeto no qual participo é o "Miniempresa", programa em que alunos do 2º e 3º anos do ensino médio tem que criar e manter uma empresa em todos os aspectos, desde a venda de ações para captação de recursos, pesquisa de mercado para escolha de um produto, sua produção, venda, custos operacionais (incluindo impostos) e organização de uma estrutura administrativa. São 15 encontros, uma vez por semana, durante um semestre.

Sempre tive vontade de fazer isso, doar um pouco do meu tempo, conseguir colocar em prática ações que gerem um ambiente saudável, próspero, agindo por um mundo melhor. Desde criança, nascida em uma família cristã, sempre li e admirei os textos descritos no Evangelho sobre a importância da caridade e do amor ao próximo. Além disso, sempre tive ótimos exemplos dessa doação em minha casa. Por isso, confesso que quando li o 1º volume da Obra Universo em Desencanto achei o livro distante e alienado sobre o assunto. Afinal, não havia visto nenhum parágrafo que enfatizasse sobre a importância da caridade...sem falar da "insuportável repetição" de "racional, racional, racional, argh! " hehe. Mas como paciência e persistência são a base fundamental para a compreensão desse raro conhecimento, posteriormente, pude compreender a clara diferença entre caridade e solidariedade. Sim, porque a caridade é algo belo, mas momentâneo e ineficiente. Doar um bem material é um gesto cristão sim, prova de desprendimento. Mas dedicar tempo e conhecimento à essa matéria-prima é criar estruturas que suportem e gerem a continuidade do caminho do bem. Por isso, compreendi que o primeiro passo para a minha caminhada solidária era começar por ajudar a mim mesma. Sim! Por que como eu poderia doar aos outros o que eu tinha de bom, se nem ao menos eu tinha o controle emocional sobre mim mesma? Como ser caridosa, estando perdida em minhas próprias frustrações e inconsciência? A descoberta da Imunização Racional, o meu auto conhecimento foi o primeiro passo e hoje, 14 anos após a escolha dessa desafio, posso comprovar que sobre bases sólidas, a solidariedade é a comunhão do Plano Divino em nossa existência.

Para finalizar, deixo a seguir a cópia do discurso que fui convidada a fazer para a formatura dos alunos do projeto no final do ano passado. Espero que lhes ajudem a compreender e compartilhar sobre a força desse sentimento.

Bons fluidos, fiquemos sempre com Deus!


"Boa noite a todos. Uma ótima noite.


Primeiramente, gostaria de agradecer a oportunidade de nos reunirmos para celebrar o fruto do bom trabalho.


Sim, porque é isso que esse projeto representa: direção, conhecimento. Coragem, apoio e vivência. E todos que estão aqui, de alguma forma, enxergam esses valores e não tiveram medo de investir no amanhã, realizando no presente.


Portanto, peço uma salva de palmas para todos: jovens empreendedores, pais, amigos, coordenadores, empresários e voluntários. E sabem por quê? Porque aqui, ao longo dessas 15 jornadas, foi plantado o bem. 


E toda vez que o bem é realizado nesse nosso mundo de tantas dificuldades e tristezas, o universo se fortalece com a Luz de Deus e essa força nos alimenta nos fazendo crescer tanto, tanto... Que podemos chegar ao céu sem tirar os pés do chão. Estranho não? Mas é assim. Exatamente assim.


Por isso, eu e meus colegas voluntários aceitamos essa missão. Encarar uma sala de aula, a dúvida, o desânimo, as incertezas que novas experiências trazem. E o desafio de criar praticando, não dando o peixe, mas ensinado a pescar.


E olha que não é fácil. Porque estamos habituados a nos acomodar, a fazer o mínimo. E muitas vezes nem isso... E o pior, sempre pensamos que estamos fazendo “muito”. Que a nossa parte está completa. E com isso, com essa mentalidade, esse pensamento medíocre vai acumulando prejuízos e resultados negativos ao longo da vida, vendendo o nosso tempo a preço de banana. E quando formos fazer um balanço da nossa empresa chamada vida, nos decepcionamos com as contas que não fecham. A ação investida tá lá embaixo... 
Difícil achar quem queira dar uma simples moedinha para ajudar. E aí, não tem como voltar atrás. Já passou, foi. O futuro se realiza no hoje, no agora. Por isso, vamos investir nas ações certas. Agindo, criando, não tendo medo, persistindo. Isso é empreender.


Ser voluntário é trocar tempo por experiência.
É dar atenção e receber gratidão.
É encarar dificuldades e não desistir da luta.
É ser diferentes e com isso, fazer um mundo diferente.
É acreditar e realizar.
É acumular riquezas, ficar milionário, e não precisar de cofres.
Porque alegria não se tranca, compartilha.
Amor não se oculta, se distribui.
Solidariedade não é luxo, é necessidade.
E experiência de vida ninguém rouba nem sequestra.
É verdade. É um patrimônio que tem seguro absoluto.
Está guardado por Deus.


Gente, ser voluntário é ser rico de 1º linha. Alta sociedade. Classe A. “A-A-A” – amor- afinidade e alegria. “Chique no úrtimo.” E para entrar nessa alta sociedade não é difícil não. Para subir na vida é fácil, é só falar com a Sandra (diretora executiva da ONG no MT- adesão de novos voluntários), viu gente?


Amigos, para finalizar, gostaria de deixar uma reflexão. É de um livro muito, muito importante na minha vida. 


Nele, tem um trecho que diz o seguinte:


“Quem tem valor, que prova o seu valor e que comprova o seu valor, não pode ser igual àquele que não tem valor algum.


Não passou de uma máquina de trabalho.


Resumiu a vida, uma máquina de trabalho.


Mas tem pessoas que produzem aquilo que o ser humano não produz.


Não pode se igualar com aquele que nada produz.


Para conhecer o valor do outro é preciso que conheça o que produziu.


E assim é a vida, o valor não está no ter muito dinheiro, porque se tem muito dinheiro, é de sua propriedade. 


O valor está nisso ou naquilo que beneficia a humanidade.”


Portanto, vamos aprender a investir melhor o nosso tempo, a empreender melhor as nossas ações, a acumular riquezas verdadeiras. Porque assim, somente assim, construímos o caminho da felicidade.


Muito obrigada."


Adivinhem qual livro é esse cujo texto usei no discurso e inspirou-me ?

Lógico, Universo em Desencanto, 14º volume da Réplica... nada como a paciência e a persistência.


Fotos do projeto:

 
Linha de produção na sala de aula.

Feira para venda dos produtos.

Noções de marketing, comunicação, negociação.






 Formatura.


Para finalizar, transcrição de um texto do jornalista Gilberto Dimenstein escrito especialmente para p livreto do CD ao vivo "Amigo" de Milton Nascimento. Impossível não refletir.

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Sentados à beira do rio, dois pescadores seguram suas varas à espera de um peixe. De repente, gritos de crianças trincam o silêncio. Assustam-se. Olham para frente, olham para trás. Nada. Os berros continuam e vêm de onde menos esperam.

A correnteza trazia duas crianças, pedindo socorro. Os pescadores pulam na água. Mal conseguem salvá-las com muito esforço, eles ouvem mais berros e notam mais quatro crianças debatendo-se na água. Desta vez, apenas duas são resgatadas. Aturdidos, os dois ouvem uma gritaria ainda maior. Dessa vez, oito seres vivos vindo correnteza abaixo.

Um dos pescadores vira as costas ao rio e começa a ir embora. O amigo exclama:

- Você está louco, não vai ajudar?

Sem deter o passo ele responde:

- Faça o que puder. Vou tentar descobrir quem está jogando as crianças no rio.

Essa antiga lenda indiana retrata como nos sentimos no Brasil. Temos poucos braços para tantos afogados. Mal salvamos um, vários descem rio abaixo, numa corrente incessante de apelos e mãos estendidas. Somos obrigados a cair na água e, ao mesmo tempo, sair à procura de quem joga as crianças.

Incrível como os homens às margens do rio conseguem conviver com os berros. E até dormir sem sobressaltos. É como se não ouvissem. Se o pior cego é aquele que não quer ver, o pior surdo é aquele que não quer escutar.

Descobrimos que os responsáveis pelos afogados não estão escondidos rio acima. Estão do nosso lado - e, muitas vezes, somos nós mesmos. São os afogados morais, gente que não conhece o prazer infinito da solidariedade. Não conhece o encanto de estender poucos centímetros de braço e encostar os dedos nas estrelas.

Tão fácil agarrar uma estrela, refletida no brilho de quem salvamos por falta de ar.

Veio da Índia a frase do célebre poeta Rabindranath Tagore sobre por que existiam as crianças. "São a eterna esperança de Deus nos homens".

É preciso mesmo infinita paciência, renovada a cada nascimento, para que se possa conviver com a apatia cúmplice. Por sorte temos pescadores que, dia após dia, mostram como as crianças sobrevivem nos homens. E como é doloroso o parto de um homem precoce no corpo de um menino.

A voz de Milton é a própria síntese do menino perdido no adulto; e do adulto perdido no menino. É a síntese de quem se viu obrigado a pular na água para pescar a si mesmo. E nunca se esqueceu e, por isso, não consegue tirar de seus ouvidos a sensação de que crianças na água pedindo socorro, são a última voz de quem quase nunca tem voz.

Gilberto Dimenstein
 

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Quem sou eu

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Curiosa, desde pequena sempre quis saber quem sou de verdade. O fim do arco-íris no fundo de meus olhos... E encontrei! Estou em pleno processo de emancipação, aprendendo a voar ainda que em um corpo perene. Estudante da Cultura Racional e dos livros Universo em Desencanto desde 1995. DESENVOLVENDO O RACIOCÍNIO. Em ponto de ebulição e sublimação!! Sorrir gratuitamente é puro prazer... Salve :D
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